Além das pessoas que contraíram o vírus, os indivíduos que não foram infectados, também acabaram sendo atingidos indiretamente pelas consequências da Covid-19. Em função das mudanças que ocorreram, muitas adaptações tiveram que ser feitas, isso mostra que a pandemia possui múltiplas proporções e é por isso que as ciências humanas e sociais são de suma importância para ajudar no processo de compreensão deste momento e até para o enfrentamento da doença.
A Rádio UFMG Educativa, por meio do programa Outra estação, em seu novo episódio, trouxe considerações obtidas a partir de uma conversa com Marden Campos, coordenador do Observatório Social da Covid-19, Eli Iola Gurgel Andrade, da Faculdade de Medicina da UFMG, Ludmila Ribeiro, pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp), Heloísa Starling, do Departamento de História, Ruben Caixeta de Queiroz, do Departamento de Antropologia, Ana Maria Gomes, da Faculdade de Educação, e Edgar Kanaykõ, mestre em Antropologia pela UFMG. Foram abordados exemplos práticos das contribuições das ciências humanas e sociais para o atual cenário pandémico.
No primeiro bloco do programa debateram e explicaram por que a doença é um fato social, além de mostrar como as ciências humanas e sociais podem ajudar no desenho de políticas públicas para o combate à covid-19.
Durante a sua fala o professor Marden Campos ressalta: "Na falta de medicamentos, de uma vacina no primeiro ano da pandemia, as únicas medidas disponíveis para conter o avanço da doença eram as comportamentais, chamadas de intervenções não farmacológicas. Todas elas objeto de estudo das ciências humanas". A professora Eli Iola Gurgel Andrade, por sua vez fala que não há como pensar a covid-19 sem os determinantes sociais que se relacionam à saúde, como nível de renda, raça e local de moradia, que relacionam à maior vulnerabilidade no contexto da pandemia. Ludmila Ribeiro faz um alerta para as consequências do isolamento social, como o aumento de conflitos em casa, violência contra a mulher e as crianças.
Já Heloísa Starling ressalta a relevância do passado para a compreensão do presente e planejamento do futuro. "O passado não vai se repetir. A covid-19 é diferente da gripe espanhola, mas há algumas coisas que a gripe espanhola nos conta: como a doença foi enfrentada, os erros que foram cometidos, os acertos que conseguiram. Isso me possibilita pensar sobre o que estou fazendo agora, e com isso eu posso mudar o futuro."
No segundo bloco do programa mostraram as contribuições dos projetos de extensão da UFMG ligados às áreas de ciências humanas e sociais, para o enfrentamento da pandemia. Fizeram um balanço dos trabalhos do Observatório Social da Covid-19, Pandemia e Segurança Pública, Memorial Vagalumes e Terra Indígena Xakriabá – Monitoramento Comunitário. O Observatório Social da Covid-19 foi criado em março do ano de 2020, a partir do debate sobre o isolamento social. A ação reúne pesquisadores de diferentes áreas como sociologia, psicologia, geografia e demografia e produz dados sobre o impacto da pandemia sobre as populações mais vulneráveis, como indígenas, imigrantes e entregadores que prestam serviço por aplicativos.