Ainda faltam no Brasil políticas públicas eficazes para prevenção a acidentes, desastres e situações de emergências, assim como para mitigação dos efeitos desses episódios traumáticos na saúde física e mental da população. Essa foi uma das conclusões apresentadas por diversos especialistas durante audiência da Comissão de Prevenção e Combate ao Uso de Crack e outras Drogas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no último dia 5.
Na data em que a tragédia do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (Região Central), completou cinco anos, a vice-presidente da comissão, deputada Ana Paula Siqueira (Rede), pediu um minuto de silêncio, logo no início da reunião, em memória aos que perderam suas vidas em Mariana, no rompimento da Barragem de Córrego do Feijão em Brumadinho (RMBH), em 2019, e também pelas 160 mil mortes, em decorrência da pandemia de Covid-19.
Foi da deputada a iniciativa de realizar o debate sobre o quanto o chamado estresse pós-traumático está relacionado com o uso e abuso de substâncias químicas, sejam elas drogas lícitas como o tabaco e o álcool, drogas ilícitas, ou mesmo medicamentos.
Ela citou dados de pesquisas realizadas pela prefeitura de Mariana, onde foi registrado um aumento de 160% no consumo de medicamentos antidepressivos e remédios para dormir, por exemplo, logo no ano seguinte ao rompimento da barragem.
Apresentou, ainda, dados da prefeitura de Brumadinho, indicando que o uso de anti-depressivos, em agosto de 2019, teria sido 60% maior do que no mesmo período no ano anterior, naquela cidade. O uso de ansiolíticos teria aumentado em 80%, enquanto outros medicamentos anti-psicóticos teriam tido aumento de mais de 100%, após a tragédia.
Não reparação de danos aumenta o sofrimento mental
Na opinião de Ana Paula Siqueira, políticas públicas de amparo às populações mais vulneráveis socialmente, que tradicionalmente mais sofrem com esses episódios, são essenciais. O sofrimento físico e mental e o consequente consumo de álcool e outras drogas acabariam por desencadear outras doenças, levando essas pessoas para o Sistema Único de Saúde (SUS), onerando ainda mais a saúde pública.
Conforme destacou a psicóloga Cristiane Santos Nogueira, representante do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, em Mariana, até hoje existem pessoas que perderam suas casas, mas que ainda não receberam as indenizações e continuam enlutadas, vivendo precariamente até hoje. "Aí, não adianta você dizer pra essa pessoa sacodir a poeira e seguir em frente, não adianta pedir pra ela parar de beber ou de tomar rivotril", ponderou.
O Presidente do Conselho Estadual de Políticas Sobre Drogas, Aloísio Antônio Andrade de Freitas, explicou que o indivíduo busca substâncias psicoativas, sejam elas lícitas ou ilícitas, para "anestesiar a consciência", diante de uma realidade com a qual ela não consegue lidar. Outro motivo seria "preencher o vazio da alma", também conhecido como angústia, e que aumenta muito nesses episódios traumáticos.
Aloísio Andrade, que é médico psiquiatra, descreveu cinco práticas que podem ajudar a pessoa, para que ela não tenha que recorrer a essas substâncias:
Todas essas práticas poderiam ser estimuladas por políticas públicas dedicadas à promoção da saúde, prevenção e combate ao uso de drogas, na opinião da deputada Ana Paula Siqueira.
Está cada vez mais evidente a necessidade de políticas intersetoriais, mas pontuou que há muitas disparidades no Estado, inclusive geográficas, que dificultam a universalização de políticas públicas.