Na véspera da primeira audiência de conciliação entre o governo de Minas e a Vale, que deve ocorrer no próximo dia 22, a expectativa de entendimento entre as partes subiu muito. É possível que ocorra um acordo histórico nos próximos dias que livre a Vale de um desgaste internacional sem precedente e permita ao Estado de Minas Gerais injetar recursos em seus cofres.
O governador Romeu Zema pretende assegurar uma receita extraordinária imediata para alavancar obras de reparação e de indenização que poderão dar resultados concretos nos últimos dois anos de seu primeiro mandato. De outro lado, os acionistas da mineradora querem uma definição, com “segurança jurídica”, que não repita os erros que se arrastam com a Fundação Renova – instituição criada com o propósito de recuperar as perdas provocadas, em 2015, pela queda da barragem de Fundão, em Mariana, mas que resultou apenas em gastos administrativos enormes, sem provocar reparações aos atingidos.
Pesam sobre a urgência do acerto entre Vale e Estado as projeções realizadas por fundos de investimento que possuem uma participação acionária. Esses estudos revelam que a superação das demandas judiciais pelos desastres de Brumadinho, avaliadas internacionalmente em € 6 bilhões, pode gerar uma valorização relevante das ações da mineradora. O fechamento do acordo que se estima ser aceito pelo Estado, de R$ 30 bilhões, permite uma recuperação tributária de R$ 12 bilhões, decorrente do acordo, e valoriza as ações, aumentando a capitalização da Vale nas bolsas internacionais, entre R$ 60 bilhões e R$ 90 bilhões.
Os acionistas representados no conselho da empresa querem um acordo tido como justo, que limpe a lama não só de Minas Gerais, mas do nome e da fama internacional da própria mineradora. A Vale, envolvida nos dois maiores desastres em nível mundial do setor de mineração, sofre a pressão dos acionistas e de clientes internacionais para garantir a origem correta e sustentável de sua produção extrativa.
Portanto, nos bastidores, as negociações estariam correndo para o fechamento de uma proposta na ordem de R$ 21,5 bilhões destinados a obras na Bacia do Paraopeba e no Estado, mais R$ 3 bilhões de investimentos sociais no terceiro setor coordenados pelo Ministério Público de Minas Gerais e mais R$ 3,5 bilhões à disposição do governo de Estado, totalizando R$ 28,5 bilhões. Com esse valor, é “bem provável” que as reparações ajuizadas em R$ 54 bilhões por parte da Advocacia Geral do Estado poderiam ter um acordo.