A importância cultural e histórica de Mariana foi o tema principal da primeira audiência pública remota da Câmara Municipal, realizada na sexta-feira (14). O debate foi originado pelo Requerimento 98/2020, de autoria do vereador Cristiano Silva Vilas Boas, e contou com a participação do ex-ministro da Cultura, Angelo Oswaldo, do desembargador Caetano Levi e de diversos segmentos da sociedade marianense. A audiência foi o primeiro passo para que a cidade de Mariana busque o título de Patrimônio Mundial da Humanidade.
Destacando a riqueza arquitetônica, cultural e história de Mariana, Angelo Oswaldo disse que a cidade há muito já deveria ter sido reconhecida como patrimônio do mundo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Unesco. O ex-ministro salientou que a apresentação de um projeto isolado do município, na Unesco, corre o risco de não atender os critérios adotados por este órgão internacional na concessão desse título. Ele aponta que o ideal é inserir o conjunto arquitetônico de Mariana juntamente com o da cidade de Ouro Preto, pois durante o levantamento da Unesco, ainda na década de 1970, para o tombamento de Ouro Preto, o Centro Histórico de Mariana foi destacado pelo arquiteto português, Alfredo Evangelista Viana de Lima. “O que disse Viana de Lima: que não se podia pensar em Ouro Preto sem se pensar em Mariana. São duas cidades irmãs. Isso é fundamental ser resgatado e lembrado”, disse Angelo Oswaldo.
O reconhecimento de Mariana como Patrimônio Mundial da Humanidade a partir de Ouro Preto não pode ser entendido como se a cidade fosse pegar “uma carona com o vizinho”, destacou Angelo Oswaldo. Ele lembrou que os sítios históricos das duas cidades foram contemplados em um projeto do governo mineiro, que tratava da preservação desses conjuntos arquitetônicos. “Em 1971, por iniciativa do governador de Rondon Pacheco, a Fundação João Pinheiro elaborou, a partir do dossiê de Viana de Lima, o plano de Proteção, Revitalização e Desenvolvimento Urbano de Ouro Preto e Mariana. Esse dossiê, de um técnico de alto gabarito da Unesco, já indicava que Ouro Preto e Mariana deveriam ter tratamento similar”, salientou o ex-ministro.
A mobilização dos diversos setores da sociedade marianense para a obtenção do reconhecimento da Unesco foi elogiada pelo desembargador Caetano Levi. Ele destacou também a participação do ex-ministro da Cultura, Angelo Oswaldo, na audiência. O desembargador disse que a fala do ex-ministro trouxe um novo caminho para a obtenção do título de Patrimônio Mundial da Humanidade tão almejado pelos cidadãos de Mariana. “O caminho que pensávamos não era o mais adequado, na medida em que a Unesco não vai inscrever, em duplicidade, um sítio histórico se já existe outro inscrito”, ponderou Caetano Levi.
O professor e idealizador da audiência, Leandro Santos, comemorou o primeiro passo em direção ao reconhecimento de Mariana pela Unesco. Ele lembrou as lutas em defesa do patrimônio marianense, ao longo dos anos, realizadas por diversas personalidades do município. “Não é uma luta só minha, mas de diversos atores do nosso município e que começou com o nosso saudoso professor Roque Camêlo”, ressaltou Santos.
O vereador Cristiano Vilas Boas deliberou pela formação de uma comissão, que será nomeada, e que seja elaborado um dossiê para apresentação ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O parlamentar se comprometeu a buscar, por meio do Legislativo Municipal, apoio junto à Assembleia Legislativa de Minas Gerais para que a cidade seja reconhecida como Patrimônio Mundial da Humanidade.