2011 mal se despontou no calendário, foliões e carnavalescos finalizam detalhes nas fantasias; participações em escolas de samba e em blocos. É Carnaval desde janeiro. Fogos de artifício espocam num show multicolorido no céu, enquanto o samba é saudado por pulos eufóricos, seguidos de movimentos contínuos de corpos. Há os que adoram e amam de paixão a festa carnavalesca; há também os que não gostam, porque são mais introvertidos e sujeitos à introspecção. Atualmente, não sou mais adepta à comemoração, mas admiro quem gosta e tem ânimo para participar de desfiles em escolas de sambas ou blocos, preparando-se com esmero e afinco para a festa mais celebrada e esperada do ano. Cada qual com suas predileções, preferências e projetos de vida. Saio às ruas, geralmente, às sextas-feiras para pagar contas, postar cartas e ver o comércio. Moro em Mariana, cidade batizada de “Primaz de Minas”. É março de 2011; o cenário político da cidade interiorana é um dos mais críticos que já vi. Trocas recidivas de Prefeitos, devido a irregularidades de diversas naturezas: compra de votos, improbidade administrativa, irregularidades na prestação de contas, etc. Em dois anos de “administração”, a “Primaz” foi comandada por três prefeitos e uma prefeita. O cenário urbano também compactua com o político. Muitos carros se “espremem” nas ruas estreitíssimas da cidade histórica (o estresse metropolitano chegou aqui também!). Motoristas impacientes e estressados buzinam freneticamente, para que os veículos da frente “desenvolvam”, como se fosse possível ou permitido transpor a faixa de pedestres, com sinal vermelho. Motoqueiros destemidos ultrapassam sem pestanejar, na contramão. Esses motoqueiros são heróis, heróis da morte. Nós, pobres motoristas não-heróis, temos que virar artistas, perfeitos malabaristas ou videntes, para adivinhar que, de uma hora para outra, surgirá do “além”, um motoqueiro muito veloz, muito corajoso e muito apressado, com a nobre missão de entregar em tempo recorde, encomendas ou mercadorias. Mariana continua lotada de veículos que dividem as ruas estreitas com ciclistas na contramão e pedestres, enquanto guardas municipais tentam com maestria performática, desobstruir o trânsito, pois os sinais deram “pane”, ou não dão mais conta de controlar o fluxo dos automóveis. Chove também; céu infestado de nuvens cor de chumbo despeja águas sem cessar, insensíveis aos clamores de foliões e das escolas de samba. A chuva toma avenidas, ruas e praças, numa dança ora frenética e enlouquecedora, ora mansa e de pingos discretíssimos. Sob a Ponte de Areia, na Rua do Catete (em Mariana), qualquer chuva inunda a pista, pois o córrego canalizado está totalmente cheio de terra. A água fluvial não tem por onde escorrer, senão sobre a Rua do Catete. Triste rua, abandonada e à mercê dos temporais! O enredo do Carnaval de 2011 é chuva, que chegou para ser rainha da bateria, tema de marchinhas e de sambas contemporâneos. Chovendo ou não, chuviscando ou não, garoando ou não, o folião não se deixa intimidar. – Chuva em Carnaval é até bom (diz um sambista), pois refresca corpos quentes e suados, e, ainda, esfria “cabeças esquentadas”! Chuva é adereço de céu, que consagra a festa da euforia, do riso incontido, dos gritos eufóricos, dos pulos frenéticos e dos esquecimentos das mazelas da vida. Carnaval é grande celebração da alegria em parcos dias, que antecedem a Quaresma. Quando a festa se finda, é época de penitência, abstinência, oração, sorriso (não riso); retorno à grande pachorra e melancolia da vida: a realidade nua e crua, sem “máscaras”, adereços e confetes...Andreia Aparecida Silva Donadon Leal - Deia Leal - Mestranda em Literatura-Cultura e Sociedade pela UFV