A palavra amor pode não designar seu sentido próprio porque vem sendo revestida de muitos outros significados que são contrassensos ao sentido original. Desde o início dos tempos a ideia do amor acompanhou os homens em sua busca, compreensão, porém, ela se refere à ideia de um relacionamento onde haja uma decisão e um compromisso recíproco. Como estamos vivendo o amor em uma época em que somos envolvidos pela mentalidade do efêmero, da inconsequência nos atos, da ilusão da felicidade comprada em qualquer esquina. O que mais ouvimos nas esquinas, nos bares, consultórios psiquiátricos é que estamos sofrendo porque queremos a felicidade. Outra frase constante é que sofremos porque queremos ser amados, reconhecidos, valorizados, especiais. Passamos das coisas que podemos comprar aos sentimentos que possuímos, exatamente por isso que a doença do século é a depressão e o vazio interior. Podemos pensar então que afirmam que o homem tem um mecanismo autodestrutivo, que sempre é um insatisfeito, por buscar tanto sofrimento. Muitos afirmam que não existe amor. Sendo assim, podemos deparar sempre com a frustração porque julgamos estarmos frente a frente numa constante com este estado interior, magoados com nossos próprios atos. Este resultado vira um conflito, fracasso inevitável ao amor. Na história humana em vários momentos podemos notar a importância do amor para felicidade. O pior é que a humanidade continua sofrendo, como se nunca tivesse recurso. Será que nos falta algo? A sociedade moderna surge com novas opções, possibilitando a livre escolha de valores e de relações, porém, nunca o homem se sentiu tão isolado e esvaziado como nesse tempo moderno. É interessante observar que a ciência deu milhões de respostas aos homens, explicando os seus comportamentos, seus psiquismos. Deu muitos “porquês”, mas não conseguiu definir a humanidade um “para que”. Precisamos amor. Se no caminhar houver uma falha, certamente estaremos perdidos, condenados ao fracasso, a depressão, a infelicidade nos relacionamentos vários. Se sofrer significa falta de amor, nossos pais não nos amaram como deveriam, nossos professores não nos compreenderam, nossos amigos nos abandonaram, nosso conjugue só pensa nele mesmo, nossos filhos foram embora e chegamos ao fim sem saber o porquê de nosso tempo de vida. Para sermos amados dependemos que alguém que resolva nos amar. E, como não podemos obrigar alguém a nos amar, ficou diante uma decisão, uma garantia, assim, o amor vira uma barganha, pois o outro não quer correr o risco de amar quem não o ama. Passamos a ser condenados pela solidão. Passaremos pela vida cobrando o amor que não nos foi dado. Culpando o mundo pelo sofrimento, julgando que ele nos deve o amor. Imaginem! Assim, não podemos mais falar de amor. Iremos falar da paixão, desejo, afetividade, sexo, obrigação, negociação, posse, objetos, não de pessoas nem de amor. Não é angustiante essa conclusão? Dá vontade de acabar logo com esse sentido, com o casamento, desistir de ensinar nossos filhos o respeito ao outro, não falarmos mais de ética, nem de valores nem de vida? Mas conhecendo o ser humano através da abordagem direta de seu próprio inconsciente, tentemos pensar de novo. Vamos para outro caminho. Definimos inicialmente o amor como sendo uma relação entre duas pessoas que implica em decisão e compromisso. O conceito de decidir, por outro lado, implica em liberdade de resposta em relação a uma transformação, determinando uma mudança de direção na vida, por uma verdade que ultrapassa pequenas concepções. Não é uma liberdade de fazer o que quiser, mas de realizarmos aquilo que já somos capazes. O amor é um ato livre que, por sua vez, sem causa; por ser livre é a causa ou o início daquilo que surge. Esta liberdade é poder decidir amar, sem depender que outro ame primeiro, porque isso não seria decisão, mas submissão. Quem é livre responde, e responde a alguém. Implica em fazer transpor, permitindo a construção de um mundo compartilhado. Não é sorte porque não depende do destino, não é escolha porque podemos escolher errado; é decisão, pois essa é soberana, e pode fazer tudo dar certo. Diante de uma má escolha podemos sempre nos reposicionar procurando enxergar o mundo sob o olhar do outro, ajudando-o a aprender a amar e ser mais livre para ser aquilo que deve ser. O Amor é um ato intransferível, ninguém pode amar em seu lugar. A profecia, a ciência e a fé jamais existiriam se não houvesse amor.Antonio Freitas Neto