Algumas mulheres não aceitam as primeiras rugas que surgem no rosto com o passar dos anos. Procuram avidamente prolongar a duração da juventude para aparentar 40 anos aos 60, submetendo-se a intervenções no corpo. Não tenho planejamento de fazer cirurgias, botox e liftings, atualmente. A idade começa a deixar marcas suaves e sutis na pele, alguns fios brancos despontam da raiz dos cabelos. Contáveis de tão escassos; o que me preocupa é garantir saúde, equilíbrio e qualidade para minha vida; depois atender sonhos possíveis. Não critico mulheres ou homens que passam grande parte de suas vidas em academias, salões de beleza, clínicas de estética, boutiques ou outros lugares para cumprir tarefas e passar por diversos procedimentos, em nome da vaidade e das exigências de se ter corpo esguio (é bom para saúde ser magro, mas não anoréxico). Ser humano é livre para fazer opções, traçar metas, priorizar objetivos. Muitos investem na aparência, outros no intelecto e por aí vai; dependentes do desejo de se sentirem realizados e de bem com a vida. Conheço mulheres que não aparentam a idade cronológica. O rosto não se contrai ao sorrir, olhos repuxados devido a frequentes intervenções cirúrgicas; aparência modificada por plásticas e outros procedimentos para o rejuvenescimento da pele. Muitas se dizem felizes, pois se sentem melhores, mais bonitas e com a auto-estima lá em cima. A moda agora é ser light, ter corpo “tipo aquela atriz da novela das nove, ou da modelo de passarela”. Esperar na fila de clínicas para tirar pneuzinhos, cortar, esticar, lipoaspirar é até terapêutico. Mulheres conhecem outras mulheres, fazem amizades, trocam número de telefones, confidências; dividem tristezas, angústias e segredos. Quem sofre com o avançar da idade, e deseja manter por mais tempo, aparência jovial, não se preocupa com os efeitos colaterais e riscos de intervenções cirúrgicas para a saúde, infelizmente. O descontentamento pela decrepitude do corpo é absolutamente normal no ser humano. Queremos viver muito, mas permanecer jovens, bonitos, desejados; cheios de vitalidade, energia e desejo. É difícil envelhecer, ver o corpo perder elasticidade e vitalidade; barriga crescer, rugas se espalharem, seios caírem, cabelos ficarem brancos, orelhas crescerem, estatura diminuir, pintas e tremores nas mãos, passos mais lentos e incertos. Não é fácil mirar-se no espelho e ver a ação do tempo. Não é fácil, mas essa é a realidade da vida. Não sou extremamente vaidosa, mas gosto de me cuidar sem exageros e neuroses. Fazer qualquer coisa para retardar a ação do tempo é ilusão. Aceito as marcas que ele deixa, suavizando-as com uso diário de cremes, de hidratantes e de protetor solar. Não tenho silhueta e estatura para passarela (mas faço exercícios físicos; são excelentes para a saúde e para o bem-estar), nem rosto que mulheres e homens parariam para admirar. Sou mulher comum, sem grandes atrativos. Tenho barriga um pouco protuberante, rosto redondo com maçãs salientes, nariz grande e arrebitado, boca média, cabelos e olhos pretos, celulite e estrias na pele. Não desejo esticar uma ou outra fase da vida, por pensar que a estética é uma das coisas mais importantes do mundo ou passaporte para felicidade. Todas as fases são curtas: infância, adolescência, maturidade e velhice. Todas com vantagens e desvantagens, alegrias, tristezas, decepções, mistérios e encantamentos. Viver é doce e amarga ilusão, em todos os seus capítulos. São pedaços pequenos de épocas. Depois dos quinze anos, o tempo corre numa marcha frenética e sem pausas. Aliás, ele não para, não dá trégua, bola, confiança para nossas neuroses, vaidades e chiliques. Tudo passa, tem seu momento exato de começar e terminar. E a gente sempre acaba, sem novidades e surpresas, do mesmo jeito que começou a vida, zerado e sem nada.Andreia Aparecida S. Donadon Leal - Deia Leal - Mestranda em Literatura-Cultura e Sociedade pela UFV