A construção de um plano de restauração florestal do Vale do Rio Doce é o objetivo do workshop que está sendo realizado hoje pela Fundação Renova, na Fundação Dom Cabral (FDC), em Alphaville, Nova Lima, na Grande BH. Ao reunir especialistas de alto gabarito na área, a ideia da Fundação Renova é organizar informações para a elaboração coletiva de uma estratégia.
O desafio é recuperar cerca de 47 mil hectares de vegetação ao longo da Bacia do Rio Doce. Segundo o presidente da Fundação Renova, Roberto Waack, além de buscar as soluções para curto e longo prazo, as discussões podem orientar para criar um legado de futuro.
As discussões estão em curso nas palestras e em quatro eixos de trabalho. Os temas em debate são: gestão e planejamento de paisagem; oportunidades socioeconômicas na cadeia produtiva de restauração florestal; restauração de baixo custo e modelo de governança para a restauração florestal e reflorestamento.
Waack lembra que no curto prazo é preciso agir em uma velocidade muito grande para a reparação dos problemas gerados pelo rompimento da barragem do Fundão, em Bento Rodrigues, em novembro de 2015. “Ainda há a pressão do agora. No dia a dia há muita execução, presença de campo. Por outro lado, há a visão do longo prazo, que vai além da reparação e deixa um legado. Mas toda essa transformação depende dessa mobilização de inteligências.
As discussões do workshop visam nortear uma das frentes da Fundação Renova, que é restaurar os 47 mil hectares ao longo da calha do Rio Doce. E que vai impactar de 200 mil a 300 mil hectares, nas quais estão milhares de propriedades rurais. Por isso, entre os debates também está na necessidade de atender a produção rural com sustentabilidade. “O resultado não está na prateleira. Não vamos encontrar uma solução simples. Temos que buscar alternativas para que esta ação faça sentido”, afirma Waack.
O que dizem os especialistas
Para Roberto Sagot, diretor de Desenvolvimento de Grandes Organizações da FDC, a importância da iniciativa está em oferecer condições de “olhar para frente”, de não só restaurar, mas entregar algo a mais a partir de uma situação que foi triste. Ele destacou a importância de diálogos, como os promovidos no workshop, para construir a solução para uma situação tão complexa e delicada. “A ideia é que um grupo desta diversidade e com intenção de fazer o bem consiga construir estratégias que sejam efetivas”, reforçou.
Nas palestras, o foco foi na Bacia do Rio Doce e em experiências de restauração que têm sido vislumbradas para o Brasil. Henrique Lobo, representante do Comitê de Bacia do Rio Doce, mostrou o preocupante cenário de degradação da região. Segundo ele, 80% da região são compostos por pastagens degradadas. “Há praticamente um vazio florestal em nossa região”, observou. E diante do déficit hídrico, previsto para as próximas duas décadas, o problema tende a piorar muito nos próximos 30 anos, com o esgotamento de diversos dos afluentes do Rio Doce.
Warwick Mariano, diretor do Departamento de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, tratou da importância dos corredores ecológicos no planejamento da paisagem. Para ele, as agendas precisam ser integradas com este objetivo. E as iniciativas relacionadas ao Vale do Rio Doce podem servir de exemplo. Mas todas as escalas devem ser observadas para que os objetivos possam ser cumpridos, da municipal à nacional.
A Política Nacional para Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg) foi apresentada por Mateus Dala Senta, da Gerência de Conservação de Ecossistemas do Ministério do Meio Ambiente. O objetivo é articular, integrar e promover as políticas indutoras da recuperação de florestas e vegetação nativa. A política também visa impulsionar a regularização ambiental das propriedades rurais brasileiras.
Já Rachel Biderman, diretora-executiva da World Resources Institute (WRI-Brasil) lembrou que a meta do governo brasileiro é de recuperar 12 milhões de hectares de florestas degradadas até 2030. Para ela, esta agenda da restauração é uma das mais inspiradoras hoje para quem trabalha com os temas ambientais globais. “Traz uma mensagem positiva, de esperança".
Em sua opinião, o exemplo do Vale do Rio Doce pode ser extremamente positivo porque mostra que “depois do temporal e da dificuldade que a lama trouxe é possível um processo supervirtuoso, de reconstrução coletiva, que acolhe pessoas não só da região mas de diversos outros locais. “É uma oportunidade até para a humanidade, para repensar nossa presença. A ideia é inspirar em uma ação que mostre o Doce como exemplo”, afirma.
Rachel Biderman acredita que o foco na restauração florestal do Vale do Rio Doce é um grande laboratório para mostrar que o Brasil tem condições de promover a recuperação de uma área atingida por um grande problema. E isto, sem deixar de lado todos os aspectos envolvidos. Rachel lembra que plantar árvore hoje significa salvar a humanidade. “Sem a quota da floresta não vamos resolver o problema do clima”, observa.
Ludmila Pugliese, secretária-executiva do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, lembrou que o a meta para o bioma que representa é ainda mais arrojado. O pacto feito por 270 instituições prevê a recuperação de 15 milhões de hectares de mata atlântica até 2050. A iniciativa, que nasceu em 2009, é uma das mais antigas no país com este objetivo de mapear e restaurar e monitorar. Por esse motivo, ela acredita que pode ser um exemplo para o projeto que visa recuperar não só os danos causados pelo rompimento da barragem, mas também boa parte da área degradada do Vale do Rio Doce.