Insônia é estado de vigília constante para muitas pessoas que têm grande dificuldade para dormir à noite. É transtorno, sem sombra de dúvida. Alguns insones remediam esse problema com exercícios físicos, ioga, meditação; outros tomam ansiolíticos. Não sou autoridade no assunto para dizer qual a melhor forma de cura ou de prevenção. Consultar médico é o caminho mais acertado. Leio eventualmente artigos que defendem o sono para uma vida salutar e parcimoniosa. Não discordo, pois sei dos inúmeros benefícios de oito horas ininterruptas e tranquilas de sono para o corpo, para a alma, para a mente; enfim, para a saúde. - A vida começa cedo! Alguém diz isso para mim com certa frequência. E eu contesto aborrecida: - A vida não começa cedo! E continuo defendendo meu périplo, que não é exemplo para ninguém: - Os homens é que levantam cedo para começar suas vidas. A grande maioria madruga para sobreviver, passando horas e horas a fio, cumprindo escalas e horários homéricos, à mercê do maior controlador da vida: o tempo. Levantei cedo na maior parte de minha vida. Os primeiros e os últimos anos de escola e de trabalho, com o fiel e velho despertador prateado no criado-mudo, bem à altura dos ouvidos e da visão, sempre vigiando e guardando sono diário. Toque rotineiro no horário exato era similar a um estampido de revólver nos ouvidos. Não bastasse o despertador prateado em casa, um relógio no pulso para controlar segundos e minutos de trajeto até o trabalho; outro na parede da sala do escritório e mais um para computar entradas e saídas: o famoso relógio de “ponto”. Atualmente não uso nenhum no pulso e nem cumpro horários e escalas de trabalho. Não sou escrava do dia e da noite. Também não estou rica e nem à procura desenfreada por cargos com excelentes remunerações, que me propiciariam a aquisição de bens materiais como: TV de plasma, automóvel do ano, imóveis, celulares, enfim, toda parafernália tecnológica da atualidade. Ser escrava do dia e da noite para ser bem-sucedida financeiramente; ser escrava de compromissos, de agendas, de patrões, de reuniões e de convocações não fazem parte do meu projeto de vida. Voltando ao velho e fiel companheiro do “barulho” – o relógio que ainda sobrevive heroicamente no criado-mudo. Não sei se pelo apego a mim ou do meu a ele, ou ao elo sentimental que nutrimos um pelo outro. Eu olhando-o bater e virar o ponteiro sem reclamar, sem estresse e cansaço. Está com alguns parafusos meio soltos, pelos inúmeros tombos que levou ao longo de quinze anos, mas, sobreviveu às quedas! Os hábitos mudaram; não madrugo, nem levanto cedo atualmente. A noite é aliada dos meus processos criativos e de minhas manias. Tenho paixão e prazer pelo silêncio noturno; pelo fio de luz que penetra as cortinas e clareia suavemente os cômodos; pelas ruas vazias ou com pouquíssimos transeuntes; pela lua pendurada no céu e pelo barulho rouco do ponteiro do despertador prateado no criado-mudo. A noite traz ânimo para meu ser porque tem compromisso com nada. A sensação de euforia pelos hábitos crepusculares é similar à alegria que eu sentia quando não tinha muitas obrigações na vida, mas compromisso com brincadeiras de infância ou com as ilusões da adolescência; com os bailes (hoje se fala em baladas e tenho a certeza absoluta que estou ficando velha) ou com a preocupação exagerada pela aparência. Impressionar a primeira paquera era foco. Essa época hoje me parece tão distante que tenho a sensação de que tudo isso ocorreu há um século, ou não passou de um feliz e passageiro sonho. Vivemos, mudamos, envelhecemos, morremos; tudo previsível, marcado e cronometrado pelas dobras e pelas viradas do tempo. O tempo é mais ou menos isso, irrecuperável, imbatível, sem retorno; controlador e consumidor incorruptível das horas, dos minutos e dos segundos que vão se diluindo com nossas vidas.Andreia Aparecida Silva Donadon Leal - Deia Leal