Com o olhar a vagar, nas nuances da penumbra da saudade, a alma me levanta mais uma vez as lembranças indeléveis. Recordar? Sim, recordando tanta coisa acabada, outras abandonadas, algumas impossíveis de ser vistas. Assim, começa a história dos poetas que transcrevem de forma farta as verdades de algumas comunidades onde desde o passado a vida pública foi fundamental. Encontro-me nestes dias, levando a procurar tantos dados esquecidos em tão pouco tempo. Tentei encontrar um livro que pudesse me ajudar a relembrar Mariana. Não encontrei um com dados de tantas épocas, daí resolvi com um amontoado de palavras reescrever. Terra de tantas sabedorias, marcada pela política desde o Brasil Colônia, hoje este fato aqui não acontece, o povo desrespeitado no seu direito de escolha tornou-se vítima de uma catástrofe chamada omissão pública. Passamos a conhecer uma melancolia jamais esperada. Falar que vivemos nesta terra onde brilhava a cultura, a política parece ser um conto, pois agora com tantas mudanças não mais se pode acreditar na verdade, ato que deveria ser fato marcante para descrever a comunidade que tentam destruir a todo custo. No passado, nem tão distante, pude participar com eterna paixão e gosto o percorrer dos caminhos das diversas veredas, que chamamos de ruas, onde a vida era marca fundamental dos interesses administrativos, agora esquecidas, abandonadas. Recordo-me da estação de trem. Participávamos da chegada e saída. O “piuí” das máquinas marcava o desenvolvimento, pois eram nos vagões, uns carregados de tralhas, outros de primeira e segunda classe, transportavam nativos e os turistas. Ouvíamos gritar nas estações: “Olha o Café e broa do dia”, aqui tem o biscoito doce, quem mais quer? Quem mais quer? Ouçam, comprem, pois o trem já vai partir. E ficava dentro de pouco tempo as “saudades” e os “adeus”. Passado remoto, inquietante, tudo isso trazia tristeza, melancolia, pensávamos! “Nossa! Eles foram, que pena! Não pudemos amá-los como devíamos”. Voltei, revi tudo mudado, nem a saudade conseguiu transpor este tempo distante. Segui indo até o fim da Estação, pude lembrar-me do telégrafo, das mensagens recebidas, pelos agentes, tantas vezes informando a condição da rede ferroviária, outras dando notícias de nossos conterrâneos que estavam distantes. Algum de vocês pode se lembrar deste episódio? O pensamento voltou, lembrei da saída dos trens para Passagem de Mariana/Ouro Preto, outro descendo, passando pelo Furquim, Acaiaca, Estação do Castro, Felipe dos Santos e Barro Branco, no município de Barra Longa, daí para Ponte Nova. Sentíamos uma alegria imensa ao ouvir o sinal da chegada dos trens, o cheiro da fumaça se misturava ao apito do trem. Ouvia o barulho da velha caldeira, como que pedindo lenha para aquecê-la. Era o fogo para fazer andar a máquina do trem de ferro. Como recordo bem os dias em que nossos conterrâneos chegavam ou partiam. Os três corriam entre as matas das gerais e outros estados, levando e trazendo riquezas. Hoje podemos perguntar: onde foram tantos filhos de nossa terra? Ainda tenho lembranças de quando o trem parava e ganhávamos muitos presentes entregues nas janelas pelos passageiros, muitos eram desconhecidos; que alegria nos fazia. Lancei um olhar e vi uma das paisagens mais lindas sobre nossa terra, com os trilhos marcando tantas esperanças, agora volta à atualidade pedida, acordem! Precisamos de paz para esta terra que de amor se fez gigante outrora. Por fim, fui interrompido nos meus pensamentos com a frase sincera do nosso cicerone... “Oi moço, creia Mariana reviverá”.Antonio Freitas Neto