Ainda hoje, como se no passado estivesse, sinto que acontece alguma coisa no meu coração. Quando ando pelas ruas da cidade e encontro meus colegas, alguns que transformei em amigos, que, no tempo de meninos estudamos nas escolas de Mariana. Educandários estes por onde passou inúmeros alunos, há muito tempo já formados, muitos verdadeiros cidadãos. Encontro as hoje senhoras, mas que, naqueles dias, eram alunas, internas ou não, do saudoso centro de ensino da primeira Capital Mineira. No Colégio Providência, as irmãs abraçavam a causa da educação com fervor e devotamento; com altruísmo e sacrossanta devoção. Ali, as moças aprendiam de tudo, inclusive a caminhar sem fazer barulho, como portar-se numa mesa e como sentar-se de forma adequada e elegante; lá ensinavam práticas de bordados, desenho, pintura e música. As conversas eram mantidas em tom suave. Tenho ainda uma vaga lembrança dos professores e das professoras, muitos deles e delas formados no Colégio Providência ou nos Seminários. Não poderia me esquecer de um dos marcos na educação em Mariana, Padre Avelar. Com sua simplicidade, distribuía amor por onde passava, sua capacidade intelectual era sabidamente conhecida. Interessante, naquele tempo o termo ecologia não era conhecido, mas éramos proibidos de jogar papéis no chão. Meninos e meninas participavam das quermesses, de peças teatrais e do canto orfeônico. Eram tantas as peças que seríamos imprudentes se citássemos uma, pois todas estavam a mostrar o que se passava de melhor com a educação. Não me esqueci de uma peça em que uma irmã escreveu, demonstrando a saga do Rey na catequese de brancos e dos índios. Alunos, caracterizados como indígena nessa peça teatral, sentiram de fato os aplausos e incentivos de uma exigente platéia. Nos Colégios iam descobrindo os talentos, à medida que os anos se sucediam. Uma das professoras aprendeu a tocar órgão e piano, transformou-se numa intérprete inteligente e desenvolta. Muitos nela também se espelharam, transformando-se de alunos em verdadeiros músicos. Lembro-me da sagração da Catedral! A luz elétrica dos homens, ante a explosão das nossas alegrias, confundia-se com a luz espiritual que, de todos os cantos da nossa quase Basílica, se expandia. Quanta saudade! Quantos setes de setembro. Era vibrante, desfilávamos “enfatiotados”, competindo entre colégios, desejando vencer. Estufávamos o peito, orgulhosos, como se estivéssemos numa guerra, empunhando os fuzis e a Bandeira do Brasil, desejando fazer o melhor. A Pátria merecia! Bumbos, surdos, e soavam alto, os clarins faziam soar seus ecos nas ruas da mais linda cidade mineira, era a responsabilidade, brio e o civismo. Os alunos sabiam de cor e salteado os hinos oficiais brasileiros. No Colégio Providência, as meninas. Nos Seminários, os meninos. Mas no Colégio Dom Frei, do Padre Avelar, estudavam meninos e meninas. Era o Colégio da Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos, antiga “CNEG”. Até hoje ainda recordo de trechos dos hinos cantados por todos os alunos. Como se esquecer desse tempo, dos professores, colegas e amigos? Esse foi um tempo especial de minha existência. Mas esse tempo acabou com a revolução de 1.964. E suas conseqüências nos anos seguintes foram capaz de separar esse grupo, mas não foi capaz de destruir nosso ideal. Relembrar esse tempo é trazer para a memória as grandes marcas da comunidade Marianense.
Antônio Freitas Neto