No ano que se passou, o Brasil concluiu mais uma disputa eleitoral e o povo elegeu democraticamente Dilma Rousseff, a primeira mulher a ocupar a Presidência do Brasil. Este fato inédito tem imenso significado histórico, pois representa a terceira vitória de um projeto democrático popular no país que teve seu alicerce na força do presidente Lula e dos movimentos sociais. A cidade de Mariana, onde Dilma venceu as eleições, contraditoriamente não tem acompanhado este show de democracia ocorrido no cenário nacional e atualmente vem vivendo um de seus piores momentos políticos. As elites marianenses, representadas por seus políticos conservadores, na impossibilidade de apresentar um projeto convincente para a sociedade, resolveram se unir em busca de seus próprios interesses lançando mão de uma aliança feroz para controlar e lotear todos os espaços públicos da cidade. Seguindo o exemplo dos períodos ditatoriais resolveram dividir a prefeitura como se fosse um bolo, dando um pedaço para cada grupo político. Repartiram os cargos, os salários e as secretarias garantindo um pedacinho para cada político com o apoio e participação de nove dos atuais vereadores. A prefeitura virou um grande balcão de negócios e os políticos marianenses continuam representantes do velho clientelismo político, pautado na troca de apoio político por cargos. Estes políticos, entretanto, esqueceram ao repartir o bolo que deveriam deixar o maior pedaço para o povo marianense, que assiste indignado ao espetáculo proporcionado por nossos governantes neste fim de ano. Não é de se estranhar na hora das nomeações aparecerem os sobrenomes das “renomadas famílias” marianenses, coincidentemente o mesmo sobrenome de vereadores e ex-prefeitos, que resolveram mais uma vez colocar na prefeitura seus parentes e amigos, (só que agora estão todos juntos) Enquanto no Brasil temos a grata surpresa de vermos avançar a democracia, em Mariana ocorre o retrocesso, pois uma meia dúzia de famílias, representantes da elite conservadora, mentem para seus eleitores fingindo serem Grupos Políticos diferentes, enganando o povo e se revezando no poder. Não há no município discussão de nada, o povo tem medo de falar, não existe o respeito à liberdade de expressão, os intelectuais se calam diante de tanta decepção e não há uma proposta clara de desenvolvimento municipal. Os políticos não têm lado e compõe um só grupo, todos se aliando para gastarem unidos de forma desplanejada e irresponsável os recursos dos cofres públicos. Os prováveis candidatos a governantes nas próximas eleições também permanecem calados e distantes do povo, ninguém tem proposta ou planos de governos sólidos, os vereadores fazem leis vergonhosas, a maior parte das leis marianenses aprovadas são para tornar entidades de utilidade pública, mudar nomes de ruas e praças públicas, conceder menção honrosa aos cidadãos e constantemente para remanejar recursos públicos previstos no orçamento, abrindo créditos suplementares para as diversas secretarias e setores. É preciso retomar o debate sobre como fazer Mariana avançar no mesmo rumo do Brasil exigindo a construção de um projeto de desenvolvimento local que deve ser perseguido em nossa cidade que é tão vasta em recursos, mas tão desigual na distribuição das oportunidades que estão concentradas nas mãos das mesmas famílias. O desenvolvimento local tem que estar a serviço da superação das desigualdades regionais e nessa complexa conjuntura municipal, a crise política tem provocado reflexos negativos para a economia, impedindo a construção de um projeto de desenvolvimento adequado. Perguntas, no entanto precisam ser feitas: Como agregar valor aos royalties da mineração? Como enfrentar os problemas de infra-estrutura, obras inacabadas e as chuvas? Como tomar medidas urgentes para enfrentar a nossa baixa qualidade do transporte público? Como valorizar os trabalhadores rurais e reforçar a agricultura familiar? Como enfrentar o problema da falta de moradia elaborando um plano municipal de habitação? É preciso que nos empenhemos na construção de um projeto de desenvolvimento para Mariana que aponte para a superação das desigualdades sociais e sirva de referência na rearticulação do pensamento democrático popular desta cidade. O povo marianense precisa ser ouvido e beneficiado, pois é ele o verdadeiro titular do poder.*Daniele Corrêa Dantas Avelar, graduanda em História pela UFOP e em Direito pela FDCL. Ex-Presidenta do Conselho Tutelar de Mariana e Presidenta do PCdoB de Mariana.