Pode a paixão sobrepor a razão Publicada 05 de Novembro de 2010 - 06:51
Dizem que palavras vão ao vento, sendo começo é único e ainda abençoado pelos deuses. Depois, quando a máscara da paixão vira de cabeça para baixo, o choro substitui o sorriso, daí vem à negação de tudo, despindo-se de tantas idolatrias, apagando da memória, as marcas dos gestos de carinho, de cada beijo. E a eternidade esperada vai aparecendo, como que uma dedicatória esquecida num papel braço no fundo de um baú.
Realmente, lucidez e paixão nunca andam juntas, não se sentam à mesma mesa ou se deitam na mesma cama. Que atire a primeira pedra quem não foi apaixonado perdidamente. Os sentimentos declamados, cantados em versos e prosas pelos maiores músicos sábios, pelos poetas, escritores, homens ou mulheres, pouco importando a raça credo ou estirpe social, conseguem demonstrar que a paixão pode sobrepor à razão. Em suas teorias tentam mostrar através das conjugações, notas musicais ou numa amostragem poética de um amor envaidecido pelo destino. Mas podemos notar que a paixão é um estado emocional intenso, que ninguém consegue viver com essa obsessão não fosse ela facilmente transferível, transformando-se em fácil perda, podendo ser colocada como fantasia. Muitos fazem esforço, tentando manter os pés no chão, mas sempre se pegam voando bem alto. Estes são os perigos para quem tem paixão. É comum encontrarmos autores, sábios descrevendo artes citando a paixão, estes tiveram a oportunidade de sentir de perto, as duas fases que descrevem o amor e o desamor. Neste tempo a paixão fica sem nada, não se toca, torna-se isolada a dois, de preferência, para curtir o sentimento devastador, que não quer mais nada na vida. Não percebe quando a maior inimiga aproxima “a realidade”.
Com a realidade todos os devaneios, desejos e expectativas se desmancham tocando de frente com fatos reais, transformando numa coisa possível, dai por diante a paixão deixa de existir, evoluindo um sentimento mais calmo e terno, a que passamos a chamar de amor. Assim é a vida! Ninguém sai imune de paixão ou de um grande amor. Sai, mas sentindo-se o último dos últimos, o preterido, paralisado e enlutado pela perda. Nesta fase notamos o choro julgar a culpa no outro pelo fracasso da relação. Acontece tudo ao mesmo tempo e hora, esquecendo até do bom senso. Quem escolheu todas estas emoções? Temos que responder “cada um de nós”. A felicidade como a infelicidade, com ou sem toques de sorte ou azar no amor, não depende só de nós, mas também da pessoa que está ao nosso lado.
A responsabilidade quer queiramos ou não, é sempre nossa. Ninguém passa da loucura à lucidez num passe de mágica. Levam-se, talvez, muito mais do que o necessário para que a gente entenda que não foi por maldição, sorte ou destino o outro decidir pela separação. Ainda mais quando se voava alto, apostando que aquele era quem se procurava ou merecia. Até aquele momento, se alimentava a ilusão de que um dia a prática passasse a perna na teoria e transformasse história real num conto de fadas, onde os amantes viveriam felizes para sempre. Entretanto, o eleito despe-se de sua majestade para dar lugar a um indivíduo comum. O encontro programado pelos deuses vira, então, um episódio cheio de desencontros e descompassos a caminho do fim. De fato, existem pessoas com uma habilidade invejável de seduzir outras, conseguindo que estas façam do modo como desejam. Têm pessoas assim. Por pessoas assim que nos apaixonamos. Alguém comum, mas premiado pelos deuses com as armas fatais da sedução. Isso o torna muito “especial”. Tão especial que nem percebe o estrago que causa na vida de quem seduz, muitas vezes por puro prazer, brincando com a carência natural de afeto. A beleza conta alguma coisa, mas não é tudo. Nem precisa tanto para que alguém se apaixone, basta um olhar. Os sedutores costumam ter olhos iluminados. E o apaixonado, feito um adolescente, embarca em todas as promessas que esses olhos lhe fazem. “Esquecendo uma regra básica no jogo da sedução: é através do olhar que o sedutor hipnotiza sua vítima”. Lembram da serpente no Paraíso? Finda a paixão, não dá para ficar se lamuriando, ou acusando o outro de insensível. Lamentar não resolve nem redime, já que quem escolhe é a gente mesmo. Ninguém nos faz o que não permitimos. Na base da confiança e do carinho qualquer ser humano afetivamente carente pode até matar por amor a outro.
A culpa é desse outro? Não. A culpa é de quem se deixa levar por esses sedutores vorazes. Desde que se entenda sedução como um jogo onde os dois ganham. É isto que diferencia o canalha do sedutor. O canalha não é ético, quer o outro para si, como coisa, é um aproveitador. Já o sedutor propõe um jogo onde todos ganham, ele porque prova a si mesmo que pode seduzir e ganhar; o seduzido, porque raramente sai prejudicado. Na pior das hipóteses estes também se realizam, pois no fundo gostariam de ser como os sedutores. Esses são alvos fáceis e desenvolvem verdadeira idolatria pelo sedutor. Quando se decepcionam, sofrem muito. Esta é mais uma historia de verdade da vida.
Antonio Freitas Neto.