Seja um parente, um amigo ou um colega de trabalho, é difícil encontrar quem não conheça alguma vítima de roubo em Minas Gerais. O crime, que por definição envolve o emprego de violência, cresceu quase 94% em cinco anos no Estado. Segundo levantamento, foram 91.676 ocorrências desse tipo em 2014, contra 47.312 em 2010.
Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o cientista político Guaracy Mingardi acredita que um dos motivos para o alto crescimento dos roubos está relacionado à falta de investigação. Para ele, há 15 anos a Polícia Civil deixou de investigar e se tornou uma instituição cartorária, que registra mais do que apura. “Sem investigação, não há repressão, e o número de ladrões profissionais só aumenta”, analisa.
A investigação ineficiente, por sua vez, impede que os criminosos permaneçam detidos após as prisões em flagrante pela Polícia Militar (PM). “A polícia não descobre o conjunto de crimes que os indivíduos cometem, e eles acabam ficando pouco tempo na cadeia”, argumenta. Ele acredita que a maioria dos roubos é cometida por pessoas “experientes”, que já se “graduaram na criminalidade”. A Polícia Civil foi procurada, mas não respondeu.
O especialista aponta ainda o aumento da disponibilidade de armas como outro fator que leva ao crescimento de roubos no país. “A campanha de desarmamento aconteceu há mais de dez anos. As pessoas já adquiriram outras armas, que acabam nas mãos dos ladrões”. Mingardi acrescenta que muitos assaltantes usam armas simples – como o revólver calibre 38 – que foram adquiridas legalmente.
Para o ex-comandante da Polícia Militar (PM), Márcio Martins Sant’Ana, que deixou o cargo ontem após dois anos liderando a corporação, o trabalho feito evitou que os indicadores da violência fossem maiores. “Paradoxalmente, nossa produtividade aumentou, e uma incidência criminal em relação aos crimes contra o patrimônio também evoluiu. E a gente chega à conclusão de que a PM pode muita coisa, mas não pode tudo. Nós acreditamos que em razão do nosso trabalho, esse crescimento foi dentro de alguns limites, pois não houve uma explosão”, afirmou.
Procurada, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou, em nota, que novas estratégias de combate aos crimes contra o patrimônio, principalmente os roubos, estão sendo elaboradas e devem ser apresentadas em breve. “A nova gestão destaca ainda que a queda dos índices de criminalidade no Estado é prioridade absoluta”.
Ainda que os roubos ocorram mais em Belo Horizonte, a sensação de insegurança não é exclusividade da capital. Vítima desse crime em Uberlândia, no Triângulo, uma mulher de 26 anos, que preferiu não ser identificada, contou que a abordagem às pessoas na porta de suas casas é bastante comum. Em 2013, dois homens armados a fizeram refém na residência de um amigo. “Não é só medo, dá raiva mesmo, como se a vida da gente não valesse nada”.