Quem passa o Carnaval de Mariana, cruza com vários deles nos cinco dias de folia e provavelmente não imagina como é o processo de criação do Zé Pereira, os tradicionais catitões tão comuns na festa.
Os bonecos gigantes são feitos por artesãos que, em geral, dedicam todo o seu tempo a esta tarefa na tentativa de personificar na estrutura de mais de três metros de altura. Uma tradição que passa de pai para filho há mais de 150 anos, que agora é revelada numa oficina especial.
Com objetivo de criar um boneco “catitão” e animar ainda mais o bloco da Saúde Mental, os usuários do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Mariana estão na Toca do Zé Pereira desde o mês de janeiro participando de uma oficina de bonecos gigantes.
O monitor de artes do CAPS, Eduardo Romagnoli, explica que todo o processo de montagem teve a participação direta dos pacientes. “Primeiramente fizemos uma visita a Toca para conhecer o espaço e saber de sua história. Num segundo momento decidimos em conjunto o personagem que seria representado. E agora, estamos trabalhando juntos na confecção desse material”, afirmou.
Ministrada pela presidenta do Zé Pereira da Chácara, Maria Chaves, a “dona Maria do Zé Pereira”, a oficina é uma oportunidade para manter viva a técnica de construção dos bonecos. “Na atividade eles desenvolvem habilidades que muitos não sabiam tinham. Além de ser um trabalho importante na ocupação dos espaços urbanos e na inserção dos usuários na sociedade”, pontuou Eduardo.
Para o aluno Udson Araújo, de 41 anos, a rede de saúde mental é a sua segunda casa. “Adoro participar desse tipo de atividade. Faço parte do CAPS desde o início e nunca deixei de frequentar as oficinas”, disse.
A expectativa é pelo desfile do Bloco da Saúde Mental, que faz parte do calendário oficial do Carnaval de Mariana 2017. A concentração acontece em frente o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), na sexta-feira (24), às 14h, na Rua 16 de Julho, Centro.
Tradição medieval
A tradição de construir bonecos gigantes surgiu na Europa, provavelmente durante a idade média. Começou com as religiões pagãs, na expressão de seus mitos e ficaram muito tempo escondidos por medo da inquisição. Chegaram ao Brasil com os portugueses, desfilando inicialmente em procissões e festividades religiosas na figura de bufões ou reproduzindo santos católicos. Durante o Carnaval de 1919 surge em Pernambuco o personagem Zé Pereira, boneco de madeira e papel marchê que caiu no gosto popular e incendeia os carnavais de rua até hoje em várias regiões do país.
Catitões de Mariana
Em Mariana, na região Central do Estado, a tradição chegou ainda no século 19. Segundo os organizadores, o Zé Pereira da Chácara surgiu em 1852, sendo considerado o bloco carnavalesco mais antigo em atividade do país, com 165 anos. Os bonecos “catitões” continuam sendo produzidos artesanalmente com bambu, fibras de sisal, jornais e grude e chegam a medir três metros de altura e pesam em média 30 quilos. São mais de 100 bonecos que homenageiam personalidades conhecidas da cidade, do estado ou do país.