A poeira que sobe durante a descaracterização de barragens de rejeito e que acompanha os caminhões carregados de minério em Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto, não é apenas um incômodo visual: trata-se de uma ameaça concreta à saúde da população local. A denúncia de uma moradora do distrito sobre o aumento nos casos de doenças respiratórias e o consequente crescimento nos gastos com medicamentos e internações foi confirmada por um relatório inédito do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG).
Segundo o documento, os 20 municípios mineiros que mais receberam recursos da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) — entre eles Ouro Preto, somaram R\$ 295,5 milhões em 2024, sete vezes mais que os R\$ 40 milhões recebidos por outras 328 cidades sem mineração. No entanto, a “bonança” econômica não refletiu em bem-estar social: os moradores dessas cidades gastam, em média, 40% a mais com saúde.
Em termos per capita, os municípios mineradores têm receita quase duas vezes maior (R\$ 12 mil contra R\$ 6,9 mil), mas também registram um gasto médio anual com saúde de R\$ 3,5 mil por habitante, contra R\$ 2,5 mil nos municípios sem mineração. A discrepância se repete nas internações por problemas respiratórios (R\$ 1,2 mil contra R\$ 886) e é ainda mais gritante nas doenças que afetam olhos, ouvidos e a apófise mastoide, com gastos 70% maiores.
A necessidade de um monitoramento ambiental mais eficaz é urgente, segundo Andrade. Ele destaca que, além da poluição atmosférica, os impactos da mineração atingem o solo e os recursos hídricos, e cita como exemplo os resultados de um estudo da Fiocruz em Brumadinho. Seis anos após o rompimento da barragem da Vale, 100% das crianças das áreas mais impactadas foram diagnosticadas com metais pesados no organismo, como arsênio, mercúrio e chumbo.
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) afirmaram, em nota, que apoiam financeiramente projetos de pesquisa voltados à atenção à saúde em áreas expostas à contaminação por mineração. A iniciativa busca fomentar soluções tecnológicas e científicas que possam auxiliar no enfrentamento dos problemas causados pela atividade.
FONTE: O Tempo.
LEGENDA: Atividade mineradora afeta saúde de moradores, segundo o TCE-MG.