A geração atual cresce imersa em um mar de estímulos digitais contínuos, desde os primeiros anos de vida. Crianças, adolescentes e jovens estão sendo moldados por um universo de recompensas instantâneas que, segundo especialistas, está alterando significativamente o funcionamento cerebral — especialmente os sistemas ligados à dopamina.
De acordo com o neuroeducador e filósofo Carlos Pires, fundador da Boomerang Neuroeducação, a dopamina fásica — associada ao prazer imediato — é ativada por curtidas, vídeos virais e notificações constantes. Em contrapartida, a dopamina tônica, responsável por manter o foco, a motivação e a persistência, perde espaço diante do bombardeio de estímulos digitais.
Essa inversão química no cérebro condiciona as novas gerações a evitar esforços prolongados e a buscar gratificações rápidas. O impacto é visível: jovens cada vez menos tolerantes ao tédio, avessos à frustração e vulneráveis ao colapso emocional. Estudos recentes da HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) e da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) apontam uma correlação direta entre a hiperconectividade e o aumento de disfunções cognitivas, ansiedade, depressão e sintomas semelhantes aos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
“O uso excessivo de tecnologia não apenas altera comportamentos — ele molda cérebros em formação”, alerta Pires. A Organização Mundial da Saúde recomenda a proibição total do uso de telas para crianças de 0 a 2 anos e uma limitação rigorosa — nunca superior a uma hora por dia — para crianças acima dessa faixa etária.
Como forma de reequilibrar a balança neurocognitiva desajustada pela era digital, o especialista reforça a importância do brincar livre, do esporte, do contato com a natureza e do convívio presencial com outras pessoas.
O alerta vale para pais, educadores e profissionais de saúde, em Mariana e em todo o Brasil. “Eles precisam atuar como aliados mutuamente comprometidos”, enfatiza Pires. Quando surgem sinais de dependência digital — como isolamento, agressividade, irritabilidade, desmotivação ou fracasso escolar —, a busca por apoio técnico de psicólogos, médicos e neuroeducadores é fundamental e não deve ser temida.
Mais do que combater os efeitos da era digital, a proposta é reposicionar a tecnologia como ferramenta — e não como tirana. “Ela deve ser aliada do desenvolvimento humano, e não força geradora de desequilíbrio mental”, defende Pires. “O desafio é monumental, mas o futuro de uma geração inteira depende da forma como decidirmos enfrentá-lo agora.”
Sobre o autor
Carlos Pires é Neuroeducador e Filósofo, com pós-graduação em Neuroeducação, Neuropsicologia, Neuropsicopedagogia e Filosofia. Atua como consultor e especialista no desenvolvimento de habilidades neurofisiológicas da aprendizagem e na estruturação de empreendimentos educacionais lucrativos com foco em estratégias de desenvolvimento cognitivo e modelos de negócios.
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