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O eterno jogo de empurra: Samarco x População 

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Era uma vez uma barragem. Ela rompeu. Morreram pessoas, o meio ambiente foi devastado, cidades ficaram debaixo de lama, e o Brasil testemunhou o maior desastre socioambiental da sua história. Praticamente 10 anos se passaram e, em vez de reparação, o que temos é um bate-boca institucionalizado entre quem sofreu e quem causou o sofrimento. A população está insatisfeita com a Samarco. A Samarco está insatisfeita com a população. E o jogo de empurra continua, sem data para terminar. 

De um lado, os atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão (Mariana, 2015) reivindicam, no mínimo, um valor simbólico — simbólico, veja bem! — de R$ 35 mil dentro do PID (Programa de Indenização Mediada). Um aceno tardio e limitado diante do tamanho da tragédia. Mas que, ainda assim, parece alto demais para os cofres da mineradora. 

Do outro lado, temos a Samarco, que, na figura de seu presidente Rodrigo Vilela, declarou recentemente que a não adesão ao novo acordo de reparação por parte de 23 municípios é, veja só, uma “aventura jurídica”. A mesma empresa que, por anos, empurrou com a barriga os processos, agora se vê inconformada com a ousadia dos municípios em não aceitarem o que lhes foi ofertado. Como ousam discordar? 

Para a Samarco, não aceitar um acordo que os próprios atingidos consideram insuficiente é um erro estratégico. Já para a população, aceitar menos do que o mínimo é um erro de dignidade. 

O que vemos, na prática, é uma encenação perversa: a empresa finge que repara, e os atingidos fingem que acreditam. Mas o problema é que o fingimento tem custo — social, ambiental, psicológico. A ferida segue aberta e, ao que tudo indica, vai cicatrizar no grito, e não na justiça. 

Enquanto isso, a lama segue correndo. Só que agora, em vez de destruir casas, destrói a paciência, a confiança e o senso mínimo de justiça. É o Brasil que, mais uma vez, aprende que tragédia por aqui não se repara. No máximo, se empurra.