Nove anos após o desastre de Mariana, que ocorreu com o rompimento da barragem Fundão, pesquisadores constataram pela primeira vez a presença de metais pesados em animais marinhos, como baleias jubarte. O estudo conduzido na foz do Rio Doce, no litoral do Espirito Santo e no Sul da Bahia, revela que os efeitos da tragédia ainda são devastadores para o ecossistema local.
Antes, a contaminação era observada principalmente em organismos microscópicos e na base da cadeia alimentar, como plânctons e pequenos peixes. No entanto, a nova pesquisa mostrou que o impacto dos metais, incluindo chumbo, arsênio e mercúrio, já chegou a espécies maiores, como aves, tartarugas e até mesmo baleias, que são fundamentais para o equilíbrio do ecossistema marinho.
Os efeitos dessa contaminação são alarmantes. Segundo os cientistas, além de alterações no comportamento alimentar e reprodutivo dos animais, foram registrados casos de anomalias físicas, deformidades e até tumores em diversas espécies. A presença de metais no sangue das baleias jubarte foi um dos resultados mais surpreendentes da pesquisa, destacando o alcance e a gravidade do desastre que continua acontecendo.
O desastre de Mariana, considerado o maior desastre ambiental do Brasil, liberou milhões de toneladas de rejeitos de mineração no Rio Doce, afetando diretamente a biodiversidade de uma vasta região. O fluxo de sedimentos e metais pesados chegou até o Oceano Atlântico, impactando a costa do Espírito Santo e do Sul da Bahia, regiões conhecidas por sua rica biodiversidade e como áreas de reprodução de diversas espécies marinhas.
Entre os animais mais afetados estão as toninhas, uma espécie de golfinho ameaçada de extinção, além de peixes e tartarugas marinhas. Esses animais não apenas apresentam níveis elevados de metais no organismo, como também exibem sinais visíveis de doenças e deformidades. A contaminação afeta a saúde reprodutiva das espécies e ameaça diretamente a sobrevivência delas.
De acordo com especialistas, a contaminação por metais pesados não é facilmente revertida. Esses elementos podem permanecer no ambiente por longos períodos, sendo absorvidos pela flora e fauna local, e sua concentração tende a aumentar conforme se move ao longo da cadeia alimentar. Isso significa que os impactos sobre a vida marinha e as comunidades humanas que dependem desses recursos podem durar por muitas décadas.
Os pesquisadores alertam que, apesar das ações de mitigação e reparo realizadas desde o rompimento da barragem, o dano ambiental continua a se propagar. Além das consequências ecológicas, há preocupações sobre o consumo de frutos do mar contaminados, o que representa um risco direto para a saúde humana.