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MG: Segundo estado com maior número de padres investigados por abusos sexuais

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Dossiê revela denúncias de crimes contra crianças, adolescentes e pessoas com deficiência no estado.

Minas Gerais é o segundo estado do Brasil com o maior número de padres investigados, denunciados ou condenados nos últimos anos por supostos abusos sexuais contra vulneráveis. De acordo com um dossiê inédito elaborado com base em 25 mil páginas de documentos de processos e inquéritos policiais, além de relatos de vítimas, condenados e membros do clero, um total de 108 líderes da Igreja Católica foram denunciados por crimes como atentado violento ao pudor, corrupção de menores e estupro, entre outros, em todo o país.

No estado de Minas Gerais, a pesquisa identificou supostos abusos sexuais cometidos por nove clérigos católicos contra 23 vítimas. Além disso, outros dois religiosos entraram na mira da Justiça após o fechamento do estudo. Os casos ocorreram em diversas cidades, incluindo Santa Bárbara, Mariana, Três Corações, Carmo da Mata, Juruaia, Arceburgo, Araguari, Oratórios, Santa Luzia, Ponto dos Volantes, Comendador Gomes e João Monlevade, embora não haja informações sobre o resultado dos processos neste último.

O dossiê foi apresentado no livro-reportagem escrito pelos jornalistas Fábio Gusmão e Giampaolo Morgado Brag, que destacam a falta de discussão pública sobre esse tema no Brasil, mesmo após escândalos semelhantes terem sido debatidos em diversos países. Desde o escândalo de pedofilia nos Estados Unidos em 2002, igrejas em todo o mundo começaram a enfrentar essa questão, mas no Brasil, algumas legislações acabaram por criar uma postura de silêncio e complacência com os abusadores.

A falta de dados sobre os casos dificulta a construção de um panorama completo desses crimes no país e ajuda a ocultar e dificultar a identificação dos abusadores. Embora parte da pesquisa se baseie em dados públicos, as investigações posteriores frequentemente se desenrolam em sigilo, não revelando os nomes dos envolvidos, o que, por um lado, protege as vítimas, mas, por outro, permite que os abusadores permaneçam anônimos.

Ao longo de três anos, o levantamento resultou na identificação de 148 vítimas suspeitas ou confirmadas, incluindo crianças, adolescentes e pessoas com deficiência intelectual, supostamente alvos de membros da Igreja Católica em 96 cidades de 23 estados brasileiros. No entanto, esse número pode ser ainda maior, uma vez que a Polícia Civil de Minas Gerais investiga dois padres suspeitos de estupro de vulnerável em João Monlevade, sem revelar o número de supostas vítimas devido ao segredo de Justiça.

A Igreja informou que os padres sob investigação foram licenciados e não estão à frente de paróquias até que o caso seja esclarecido. O teólogo e cientista da religião, Sandson Rotterdan, alerta que esses dados são preocupantes, especialmente considerando a subnotificação, seja por encobrimento dos crimes ou falta de denúncia. Ele destaca que a maioria dos casos de abuso no Brasil não envolve religiosos e que, quando o crime é perpetrado na igreja, há um agravante social, uma vez que a fé também está em jogo.

Esse dossiê lança luz sobre uma questão sensível e exige um debate mais amplo sobre como a sociedade e as instituições religiosas enfrentam e preveem o abuso sexual, especialmente quando envolve membros do clero.