Assassinatos e ataques violentos de adolescentes em escolas, quase corriqueiros nos Estados Unidos, têm se tornado frequentes também no Brasil. Desde 2002, houve 40 mortos em 22 ações violentas em estabelecimentos de ensino, de acordo com nota técnica da USP. Das 22, metade ocorreu desde fevereiro de 2022. É fundamental a polícia monitorar as redes para frustrar ataques no nascedouro. Quanto antes agir, maior a chance de preservar vidas. Nos Estados Unidos, que vivem dramas assim há anos, um homem armado de fuzis e pistolas matou três crianças e três adultos numa escola de Nashville no mesmo dia do ataque em São Paulo. Não dá para aceitar que esse tipo de horror se torne tão comum aqui quanto é lá.
O motivo para a alta fica claro quando se analisa a morte brutal da professora Elisabeth Tenreiro, 71 anos, por um adolescente de 13 numa escola estadual paulistana. Não basta decretar luto oficial, indignar-se e abrir investigações para apurar a tragédia consumada. É preciso se antecipar. Nesse aspecto, as autoridades brasileiras se mostram despreparadas, e as redes sociais continuam a fingir que não é com elas. A morte trágica de Elisabeth é só mais um exemplo de que é fundamental mudar a lei que as isenta de responsabilidade quando são usadas para atos criminosos.
A gravidade da situação não dá margem para demagogia. As autoridades estão diante de um desafio que envolve múltiplos fatores, cada um exigindo iniciativas próprias, muitas vezes fora da esfera restrita da segurança pública. Mesmo pesquisadores que se dedicam a estudar o assunto anos a fio se mostram perplexos com a escalada de ódio e violência, com a escolha de crianças indefesas como alvo preferencial, com a notoriedade que os criminosos buscam em redes que cultuam a morte. Não será um problema de solução fácil nem imediata, como demonstram os anos que os Estados Unidos têm dedicado a ele sem sucesso.
Prender ou apreender os agressores é o mínimo a fazer, mas está longe de resolver a questão. Cabe às escolas cuidar de seus alunos, identificar neles sinais de transtornos ou desvios que possam pôr a comunidade escolar em risco e informar as autoridades sempre que houver violação da lei. Cabe à toda imprensa adotar uma postura responsável na cobertura dos fatos, evitar dar aos criminosos a visibilidade que buscam e tentar reduzir o “efeito contágio” (o Grupo Globo por exemplo acaba de adotar as normas mais restritivas para a cobertura jornalística desses eventos). Cabe aos acadêmicos estudar e produzir conhecimento sobre a questão da forma mais rápida e consistente que puderem. Cabe também aos pais acompanhar a rotina dos filhos, monitorar seus acessos nas redes, acompanhar a rotina da escola, examinar o que levam nas mochilas… a luta é grande mas não podemos deixar ser irreversível.
Quanto ao governo, o melhor que tem a fazer é, antes de mais nada, entender o problema em suas múltiplas dimensões, para tratá-lo de forma científica e profissional, com base em políticas públicas comprovadas, e não com o amadorismo que se tem visto. Do contrário, jogará dinheiro fora enquanto o país sofrerá novas tragédias.