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O assédio no ‘BBB 23’ levanta polêmica da urgente necessidade da autocrítica masculina

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Estudiosos indicam que episódio que culminou na eliminação de dois participantes deve ser instrumento de reflexão coletiva

Durante a última Festa do Líder do “Big Brother Brasil 23” (“BBB 23”), o músico MC Guimê acariciou o corpo de uma participante estrangeira, Dania Mendez, que entrou na casa para um intercâmbio entre a versão brasileira e a versão mexicana do reality, sem o consentimento dela. Já o lutador de MMA Antônio Cara de Sapato, apesar das negativas da sister, deu um beijo e fez contatos físicos forçados com ela. Por conta dessa conduta, os dois são, agora, alvos de um inquérito da Polícia do Rio de Janeiro para apurar se cometeram importunação sexual contra a mexicana. Além disso, eles foram eliminados do programa por “terem violado regras”, como explicou Tadeu Schmidt durante discurso feito aos participantes. 

Ao lembrar que a situação vista no reality se reflete para além daquela redoma, a produção do programa sinalizou acertadamente para uma oportunidade coletiva de reflexão sobre como o assédio e a importunação sexual contra as mulheres são problemas crônicos, graves e que precisam, urgentemente, ser enfrentados. Não por acaso, desde que o episódio veio à tona, espectadores, patrocinadores e a própria emissora se engajaram e se mobilizaram nesse debate. Na sexta-feira, por exemplo, outro apresentador da Globo, o jornalista Manoel Soares, à frente do matinal “Encontro”, recorreu às redes sociais para comentar o caso, fazendo um convite à autocrítica e à mudança. “Tanto o Guimê quanto o Cara de Sapato não estão sozinhos nesses erros. Eu, você que é homem, que está vendo aí do outro lado, também estamos com eles nesses erros, e a gente precisa entender isso”, argumentou, dizendo que há muito tempo as mulheres estão dizendo “basta”. “(Mas) a gente relativiza, leva na brincadeira, acha que nosso afeto e nosso amor não fazem as nossas atitudes serem tão sérias”, pontuou. Para Manoel, a surpresa dos brothers diante da eliminação reflete como a problemática conduta deles pode nem sequer ter sido percebida, exatamente por ter sido naturalizada em nossa sociedade.

De fato, mesmo com os avanços em legislações que visam combater comportamentos como os vistos no programa, a começar pela desnaturalização de tais abusos, ainda há muito a ser feito para garantir a segurança e dignidade das mulheres. “Atitudes como as de Guimê e Cara de Sapato são muitas vezes toleradas por serem lidas como uma típica expressão de masculinidade, o que contribui para a perpetuação de uma cultura de violência e discriminação de gênero”, adverte Luciana Andrade, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG (Nepem), que vem acompanhando com interesse toda a repercussão do episódio. Para ela, a produção da atração acertou na forma como tratou o tema. “O ‘BBB’ tem muita capilaridade e chega a alcançar mais pessoas que campanhas governamentais. Daí a importância de se dizer que aquelas atitudes são inaceitáveis e agir de forma contundente. Com essa ação, o programa vai até mesmo pautar o tom desse debate”, avalia.