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Carta aberta e enviada pela AVABRUM aos familiares e atingidos da tragédia de Mariana

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Em um cenário que parece um filme de terror, há riscos de colapso de novas barragens..

No último sábado (5), a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM), prestou uma homenagem em carta aberta, sua solidariedade aos familiares das vítimas e atingidos pela tragédia de Mariana, que ocorreu em 5 de novembro de 2015, quando a barragem de Fundão da mineradora Samarco rompeu, resultando em 20 vítimas fatais, das quais um bebê recém-nascido. Passaram-se sete anos da tragédia que é parte de uma história de ganância e desrespeito à vida protagonizada por empresas que buscaram apenas o lucro. Foram vidas, amores e sonhos enterrados por 34 milhões de m³ cúbicos de rejeitos de minério de ferro da barragem da Samarco, empreendimento conjunto das mineradoras Vale e BHP Billiton.
            Cerca de três anos depois ao que ocorreu em Mariana, em 25 de janeiro de 2019, outro tsunami com 12,7 milhões de m³ de rejeitos de minério de ferro da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão da Vale resultou em 272 vítimas fatais, em Brumadinho (MG), no que é considerado o maior acidente de trabalho da América Latina. No total, 131 eram empregados diretos da Vale, 119 trabalhavam para a empresa como funcionários terceirizados e 20 eram da comunidade e/ou turistas. Duas grávidas e seus bebês, que estavam sendo gestados, estão entre os soterrados. Quase quatro anos do rompimento da barragem da Vale, 4 corpos de vítimas ainda não foram encontrados.

            As duas tragédias são a face da mesma moeda, a que simboliza os crimes contra a vida e os territórios que foram devastados pelo setor da mineração. Em um cenário que parece um filme de terror, há riscos de colapso de novas barragens. De um total de 459 barragens de mineração no Brasil enquadradas na Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), há 76 delas em situação de alerta ou emergência declarada em todo o país, segundo relatório de setembro deste ano da Agência Nacional de Mineração (ANM).
Destas 76 barragens, 4 delas estão em situação de emergência em nível de alerta 3, ou seja, sob risco de ruptura iminente ou com alta probabilidade de rompimento, e localizam-se em cidades próximas à Mariana e Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. As 4 barragens de rejeitos de mineração situam-se nos municípios mineiros de Nova Lima, Itatiaiuçu, Ouro Preto e Barão de Cocais. Como se não bastasse o pânico de moradores de MG com os riscos de novas avalanches de rejeitos de minério, a impunidade é outra triste marca da tragédia de Mariana, pois, sete anos depois, os processos arrastam-se. Até o momento, ninguém foi responsabilizado criminalmente e as medidas de reparação estão longe de serem concluídas.
Nós, da AVABRUM, também lutamos por justiça há quase quatro anos. Os familiares e atingidos da tragédia-crime de Brumadinho têm atuado para que o julgamento do processo criminal — iniciado em 2020 após denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) – ocorra onde o crime aconteceu, ou seja, na Justiça do Estado de Minas Gerais, e que os 16 réus da ação penal, além da Vale e da Tüv Sud, sejam julgados e responsabilizados.
Unidos pela dor da saudade, nós queremos reiterar, por fim, a nossa solidariedade a todos os que se foram na tragédia de Mariana, a seus familiares e atingidos. Por justiça, encontro, memória e não repetição de crimes como estes.