Durante uma reunião, no meio de uma apresentação ou mesmo no decurso de uma conversa entusiasmada: pode acontecer de aquela palavrinha-chave, que estava “na ponta da língua”, simplesmente fugir, desaparecer. Mas, algumas vezes, diante do famoso e temido “branco”, uma saia-justa pode ser inevitável, como quando esquecemos o nome da pessoa com quem estamos conversando.
O que muita gente talvez não saiba é que esse fenômeno tem nome. Estamos falando da letologia, expressão derivada do grego e que é formada pela junção de “lethe”, que quer dizer “esquecimento”, e “logos”, que significa “palavra”. O termo ganhou mais popularidade – embora ainda seja desconhecido pela maioria das pessoas, quando foi usado pelo psicanalista Carl Jung, no início do século passado.
Na maioria das vezes, a letologia não chega a ser considerada um lapso da memória. Ou seja, não se trata de um esquecimento absoluto, uma vez que a pessoa até sabe o que quer dizer, só não consegue encontrar a palavra adequada para tal num momento específico – não é raro que, após alguns instantes, aquela palavrinha venha à mente.
Entretanto, quando acontece de forma reiterada, a lethologia pode ser um indicativo de algo mais grave, além de gerar, potencialmente, sensação de frustração e fracasso. “Não se trata de algo que, necessariamente, vai ser indicativo de uma doença, podendo ser apenas um evento isolado. Mas, se for algo que está acontecendo muito e causando prejuízos para a pessoa, é preciso ligar o sinal de alerta, pois o comportamento pode, sim, ser um sintoma de algum tipo de condição mental”, explica Bruno Brandão.
Definindo o quadro como um “prejuízo transitório de memória”, o especialista situa que o distúrbio costuma ser mais comum entre pessoas idosas. Neste caso, ele diz ser importante que se investigue se a queixa não é indício de alguma demência – termo usado para designar qualquer desordem na qual há significativo declínio cognitivo que cause interferência no funcionamento ocupacional, doméstico ou social, ocorrendo de forma crônica e progressiva; a doença de Alzheimer corresponde à maioria dos casos de demência, chegando a um número entre 60% e 80% desses registros. “Além disso, tanto em idosos como em pessoas jovens, a letologia frequente pode ser um indicativo de quadros de ansiedade – como ansiedade generalizada e síndrome do pânico – ou de quadros depressivos”, descreve Brandão.