Um estudo realizado pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e publicado na revista Nature comprovou numericamente o que muitos cardiologistas já verificavam na prática: pessoas que tiveram Covid estão propensas a desenvolver problemas cardiovasculares até um ano após a infecção. Até mesmo quem teve sintomas leves pode ter complicações futuras.
.
Os cientistas compararam dados médicos de 150 mil veteranos que sobreviveram à Covid com outros dois grupos de pessoas que não foram infectados. O cruzamento das informações permitiu observar que as pessoas que tiveram contato com a doença, mesmo com sintomas mais leves, tiveram 52% mais chances de ter um acidente vascular cerebral (AVC) e 72% mais risco de desenvolver insuficiência cardíaca, em relação aos grupos de controle.
.
Segundo Antônio Bahia Neto, presidente da Sociedade Mineira de Cardiologia, o estudo vem corroborar uma realidade observada pelos especialistas. “Quanto mais grave é a manifestação aguda da Covid, maiores são as chances de desenvolver complicações cardiovasculares de forma geral. Mas quem teve sintomas leves também pode desenvolver um problema”, explica o médico.
.
Por isso, até mesmo para as pessoas vacinadas ou que tiveram sintomas gripais após a infecção pela ômicron, a recomendação é procurar por um cardiologista para avaliar a saúde do coração. Não só pelo vírus em si, mas também por outras questões impostas pela pandemia.
.
“Existe uma questão multifatorial provocando um maior número de mortes por doenças cardiovasculares, além da Covid. A pandemia trouxe uma mudanças comportamentais, como aumento do estresse, do sedentarismo e de hábitos inadequados, como comer, fumar e beber mais”, explica Bahia.
.
Dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen/BR) indicam que, em janeiro de 2022, houve no Brasil um aumento de 20% em mortes por AVC, 19% por causas cardiovasculares inespecíficas e 17% por infarto em relação ao mesmo mês do ano passado.
.
E a tendência é de haver uma crescente de mortes por doenças cardiovasculares pelos próximos anos, segundo o cardiologista. “Antes da pandemia, já havia uma expectativa de crescimento, porque a população está vivendo mais e tendo hábitos inadequados. Mas com a Covid e as complicações, a expectativa passou a ser de um crescimento exponencial de mortes por doenças cardiovasculares”.
.
.
Foto: Reprodução/IME