A fatura do plano de saúde deve pesar, em breve, ainda mais no bolso do brasileiro. Uma projeção do banco BTG Pactual indica um reajuste de 15% neste ano nas mensalidades do tipo individual, que seria o maior da série histórica da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), iniciada em 2000.
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Paralelamente, o cenário é de aumento constante no número de beneficiários, que vem crescendo desde julho de 2020.
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Em dezembro, o setor totalizou 48.995.883 usuários em planos de assistência médica e 29.239.226 em planos exclusivamente odontológicos, um total de 78,2 milhões de pessoas.
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Para a advogada Ana Paula Moraes, especialista em direito à saúde, o aumento de 15% projetado pelo BTG vai na contramão da situação das famílias brasileiras, já que elas ainda se recuperam dos impactos da pandemia.
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“É um reajuste extremamente oneroso para qualquer pessoa. É preciso medidas do Ministério Público e do Procon para garantir aos consumidores um direito à utilização desses planos de forma menos onerosa, porque sabemos que a saúde pública não comporta um atendimento amplo e eficaz para toda a população”, diz ela.
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Para Ana Paula, o reajuste projetado pelo banco de investimentos tem como causa o aumento no número de atendimentos no ano passado. Com a retomada das cirurgias eletivas e o colapso do sistema de saúde no primeiro semestre de 2020, a despesa é repassada ao consumidor.
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Apesar disso, a sinistralidade dos planos fechou 2021 em 78,7%, patamar semelhante ao de 80%, medido no cenário pré-pandemia.
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Essa taxa, por meio da razão entre os sinistros (consultas, exames, cirurgias etc.) e o prêmio (valor arrecadado pelas empresas com a mensalidade), mede o percentual de uso desse tipo de serviço.
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“Essa previsão é assustadora. A sinistralidade foi muito próxima à do período pré-pandemia. Então, a ANS deve levar esses dados em consideração para definir um reajuste adequado, que não expulse o consumidor do plano”, explica Marina Paullelli, advogada do Programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
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Vale lembrar que os planos tiveram, em 2021, pela primeira vez, um reajuste negativo, de -8,19%. Esse recuo teve como explicação a suspensão dos procedimentos eletivos em 2020, o que reduziu os custos das operadoras. No ano passado, além do retorno dessas cirurgias, a demanda da pandemia continuou em alta.
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“Os planos de saúde aproveitam essa situação (do aumento dos atendimentos eletivos e da pandemia) para ganhar dinheiro”, pontua Ana Paula Moraes.
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Foto: Reprodução/Economus