Infecções causadas pela variante ômicron do novo coronavírus representam casos menos graves quando comparadas com as provocadas pela delta, segundo um estudo americano. As análises feitas mostram que, mesmo em idosos, a nova cepa representou menor risco de complicações pela doença.
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Assinado por seis pesquisadores dos Estados Unidos, a maioria deles da Escola de Medicina da Universidade Case Western Reserve, em Ohio, o estudo foi publicado na plataforma medRxiv e é um pré-print, ou seja, ainda não foi revisado por pares.
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Para a investigação, os pesquisadores acessaram informações da TriNetX, uma plataforma que compila dados de mais de 80 milhões de pacientes de 63 serviços de saúde dos Estados Unidos.
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Os cientistas se concentraram nas informações de três períodos de 2021 para comparar os impactos da delta e da ômicron na gravidade de casos de Covid-19.
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O primeiro intervalo abrangeu dados de 1º de setembro a 15 de novembro, período que corresponde a prevalência da delta no país. No total, foram compilados mais de 560 mil casos de Sars-CoV-2, conforme o banco de dados usado pela pesquisa.
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O segundo foi de 15 a 24 de dezembro, quando a ômicron já tinha grande transmissão comunitária no país. Nesse caso, foram registrados cerca de 14 mil diagnósticos da doença.
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Por fim, observou-se o período de 16 a 30 de novembro, quando a delta ainda era prevalente, mas a ômicron já tinha sido registrada no país. Aproximadamente 78 mil infecções foram relatadas nesse momento.
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As informações do predomínio das variantes em cada um dos intervalos se basearam em dados epidemiológicos do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos. Ou seja, os pesquisadores não realizaram sequenciamento genético para a pesquisa.
Essa divisão foi importante para comparar os impactos das duas variantes, quando cada uma delas tinha maior prevalência de infecções, para casos graves da doença. No estudo, foram selecionados quatro aspectos para analisar a seriedade da Covid-19: procura por um serviço de emergência médica, hospitalização, internação em UTI e uso de ventilação mecânica.
Esses quatro fatores foram maiores nos períodos de grande disseminação da delta e houve redução no intervalo em que a ômicron já estava com transmissão comunitária. Por exemplo, a porcentagem de casos com necessidade de hospitalização durante a onda de infecção da ômicron era menos da metade em relação à da delta.
De maneira parecida, a busca por serviços de emergência teve uma queda de aproximadamente um terço ao observar a disseminação das duas variantes, caindo de 15% no período de prevalência da delta para menos de 5% no caso da ômicron, o que pode indicar a menor gravidade desta variante.
Outro detalhe que o estudo se atentou foi para as faixas etárias das pessoas infectadas.
Houve uma separação etária que possibilitou investigar se a ômicron e a delta representavam um maior risco a depender da idade.
Nessa parte do estudo, não foi possível aplicar a estratificação por faixa etária em relação à internação em UTI ou à adoção de ventilação mecânica em razão de um “tamanho reduzido de amostra”, estando restrita aos casos de hospitalização e busca por emergência.
Os pesquisadores perceberam que houve uma diminuição nesses dois pontos durante a prevalência da ômicron em todas as faixas etárias, mesmo em pessoas com mais de 65 anos, que tiveram quase o dobro dessas duas complicações no período de maior disseminação da delta.
Para assegurar que a diferença da gravidade da Covid realmente se relacionava com as duas variantes, os cientistas também compararam os dois períodos de maior prevalência da delta -o primeiro em que a ômicron ainda não estava presente no país e o segundo quando a nova cepa já tinha sido registrada nos Estados Unidos, mas ainda sem grande dispersão.
Diante disso, chegou-se à conclusão de que não houve diminuição significativa no percentual de casos graves nos dois instantes dominados pela delta, indicando que possivelmente a redução de procura por emergência, de hospitalização, de internação e de uso de ventilação mecânica esteja associada realmente a menores riscos que a ômicron representa mesmo em pessoas mais velhas.
Entretanto, assegurar esse quadro ainda não é possível com esse estudo, afirma Raquel Stucchi, infectologista e professora da Unicamp (Universidade de Campinas). Ela diz que existem dois pontos que não foram tão bem abordados na investigação.
O primeiro deles é em relação à imunização. Conforme o artigo, não foi possível coletar de maneira eficaz a adesão à vacina por meio do banco de dados da pesquisa porque havia “apenas cerca de 2% [da taxa de vacinação documentada]”, mesmo que existam indicativos de que uma maior parcela da população já estivesse vacinada nos períodos que o estudo analisou.
Para Stucchi, a falta desse dado impossibilita indicar se realmente a diminuição dos casos graves no período de prevalência da ômicron foi causada pela variante ser menos grave.
Ela diz que é possível que, com a chegada da nova cepa, as pessoas se preocuparam mais em se vacinar, fazendo com que as complicações pudessem ser menores por essa maior adesão à campanha de imunização.
“[A questão] que a gente tem [na questão da] menor gravidade da ômicron [é] porque a variante tem tantas mutações que se transmite mais fácil, mas tem menor capacidade de produzir doença por ela mesma ou o quanto [a diminuição de casos graves] é um benefício da vacinação”, afirma.
Outro aspecto que Stucchi aponta do estudo é o intervalo determinado pelos cientistas para que um paciente apresentasse complicações pelo coronavírus. Segundo o artigo, logo após o diagnóstico, o infectado precisaria ter um dos quatro fatores de gravidade em até três dias para entrar no percentual de pacientes com alguma severidade. É a partir daí que foram calculadas as diferenças entre as complicações causadas entre delta e ômicron.
A infectologista, no entanto, afirma que esse intervalo para análise poderia ser maior já que os pacientes poderiam desenvolver quadro mais graves depois dos três dias -algo que poderia indicar uma mudança na análise da gravidade da ômicron em relação à delta.
“Esse estudo em si, pelo prazo que eles escolheram de observação [de três dias], não permite a gente ratificar a menor gravidade e menor risco de doença grave [ômicron]”, afirma.
Mesmo assim, a professora menciona que a pesquisa é um bom indicativo para demonstrar que a nova cepa do coronavírus pode não ser tão grave para diversas faixas etárias.
“O estudo tem um número bem expressivo e traz um indicativo de que realmente a doença vem a ser menos grave, particularmente nos idosos”, conclui.
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Fonte: https://www.otempo.com.br/mundo/omicron-causa-quadros-menos-graves-mesmo-em-idosos-sugere-estudo-1.2591230
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Foto: Roberta Aline/ Cidade Verde