Nesse cenário pandêmico, várias pessoas têm sido afetadas negativamente pelo excesso de notícias sobre os números de casos e mortes de infectados, o compartilhamento de informações falsas também é um fator que contribui para o aumento da angústia e surgimento de alguns transtornos emocionais. Por esses motivos, a higiene mental torna-se uma alternativa para desviar um pouco a atenção da doença e focar mais no próprio bem-estar físico e mental.
Segundo o professor da Escola de Ciência da Informação da UFMG, Carlos Araújo, “manter-se informado é sim importante para se ter ciência da atual situação, no entanto o consumo constante e único dessas informações é prejudicial”.
Pedro Teixeira, mestrando em Estudos Psicanalíticos da UFMG afirma que a higiene mental pode ser considerada como uma forma de amenizar esse momento de dúvidas e incertezas, “ainda que a sociedade atual necessita de uma alta produtividade em grande parte do tempo, e é por essa razão que as pessoas precisam de um momento para relaxar, além de não se cobrar tanto, sobretudo nesse período de isolamento”.
Essas incertezas e inseguranças em relação à pandemia têm afetado a saúde mental de milhares de brasileiros.
Os marcadores são de um paciente em estado crítico: o Brasil está doente, e não é só Covid. A psicanalista Vera Laconelli explica que a segunda onda da Covid-19 veio acompanhada de um colapso também no estado mental das pessoas “A gente está tendo uma nova onda de adoecimento psíquico. É um novo choque, é uma nova situação de estresse. Então quando a gente fala em nova onda da Covid também tem uma nova onda de risco para saúde mental”, relatou a psicanalista.
Por onde passa, o vírus deixa um tanto de tristeza e preocupação com o futuro, mas, no Brasil, médicos e psicólogos dizem que a onda de doenças psíquicas é uma outra epidemia, que cresce em paralelo à Covid. Em nenhum outro lugar do mundo subiu tanto o diagnóstico de ansiedade e depressão, segundo um estudo da Universidade de Ohio em parceria com universidades de 11 países. Sofremos mais que os outros porque, no Brasil, a pandemia demora a ceder, concluem os pesquisadores. A falta de ar como sintoma da Covid é consequência da chegada do vírus aos pulmões – inflamados, eles não têm a mesma capacidade de captar oxigênio da atmosfera. Já a respiração ofegante em uma crise de ansiedade vem de um descontrole do sistema neurológico. A amígdala, localizada na parte mais profunda do cérebro, gera um alerta como se estivesse diante de uma ameaça. A resposta é uma combinação de cortisol, adrenalina e noradrenalina. A mente vira um terreno fértil para pensamentos negativos e irracionais e para o medo. Mas tem cura: “Às vezes você não pode mudar a situação, mas o fato de poder falar dela, e ver com o outro, entende faz toda a diferença. Então a gente tem, sim, que buscar apoio. Isso é uma coisa que a Organização Mundial de Saúde falou desde o dia primeiro da pandemia: ‘Procurem situações e profissionais para compartilhar o sofrimento.’ Mas nem tudo é o profissional. A gente pode ter isso dentro do âmbito doméstico, com os amigos”, disse a psicanalista Vera Iaconelli.